segunda-feira, 21 de março de 2011

Orfeu no Tarô Mitológico

No discurso de domingo, no Theatro Municipal, o presidente norte-americano Barack Obama citou o filme Orfeu do Carnaval. Grande referência da cultura brasileira, que, a partir de uma peça de Vinicius de Moraes (Orfeu da Conceição), criou-se o tal filme, dirigido pelo francês Marcel Camus, e vencedor da Palma de Ouro em Cannes (1959). Tanto a peça quanto o filme renderam músicas lindíssimas feitas por Vinicius & Cia, como Manhã de Carnaval e Felicidade, e a trama foi refilmada por Cacá Diegues em 1999.
Todos situados, vamos ao assunto de hoje: o Orfeu tão falado é uma referência ao poeta e músico da mitologia grega (poesia e música estavam sempre juntas na Grécia Antiga, pois o ritmo garantia que os poetas não esquecessem suas rimas, sempre cantadas, e não contadas). Ele aprendeu a tocar lira com as Musas (ele era filho de uma delas, Calíope, a de "bela voz") e casou-se com Eurídice. No Tarô Mitológico, ele representa o Rei de Copas, o homem da sensibilidade e do amor sincero, que acaba inspirando as outras pessoas no mundo dos afetos.

Apesar da beleza de seus canto, Orfeu foi infeliz no amor. Ao ser picada por uma cobra, Eurídice morre. O poeta decide ir atrás dela, no reino do senhor das profundezas, Hades e graças ao seu canto suave, conseguiu o que ninguém acreditava ser possívcel: Hades, comovido pelo amor deles, consentiu que Eurídice seguisse o amado de volta ao mundo dos vivos - desde que, sob hipótese alguma, Orfeu olhasse para trás.

Qaundo estavam já no finzinho do caminho de volta, Orfeu foi tomado pelo pavor de estar sendo enganado, de que não era Eurídice quem estava seguindo-o de volta à terra. O medo foi mais forte que tudo, e ele se virou para se certificar da presença da mulher. Pronto! Promessa quebrada, Eurídice perdida, definitivamente, para o mundo dos mortos. Dolorido pela perda, até o fim da vida Orfeu se dedicou a pregar, ganhando fama como líder espiritual, até que incomodou tanto Dionísio que este o levou a ser assassinado.

O que significa o mito de Orfeu? Ele é o arquétipo daquele que cura o outro mas não consegue se curar (no caso, o coração partido). Como o naipe de Copas (leia aqui) é essencialmente a emoção, seu Rei representa a pessoa que tem muita força e é bem intencionado, mas que esta força toda está à disposição dos outros, com o coração sempre à frente da razão e às vezes o coração sendo usado como subterfúgio. Orfeu serve o outro para esquecer sua própria dor, busca a cicatrização de sua vida no auxílio ao próximo.

Nesta carta, vemos que aos seus pés está a água, elemento de Copas, e um caranguejo tentando alcançá-lo. O caranguejo, animal que fica imerso no mangue, imperceptível, é o símbolo dos nossos sentimentos e sensações mais profundos, como o medo e a insegurança. São esses sentimentos que muitas vezes escondemos de nós mesmos, e disfarçados de altruístas, damos mais atenção à dor do outro em vez de, primeiro, desenterrarmos nossas dores internas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário