sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

O triângulo das formas na Umbanda

Na Umbanda, os guias assumem uma persona, uma roupagem fluídica para favorecer uma identificação, aproximação com as pessoas. As figuras mais importantes formam o chamado Triângulo das Formas. São elas: Caboclos, Pretos-Velhos e Crianças.
Muitas vezes, a roupagem assumida pelo guia não tem ligação com suas encarnações anteriores, a escolha é feita de acordo com o que o guia mais deseja trabalhar. Até porque cada uma das três linhas traz mensagens específicas e trabalha de forma diferenciada.
As Crianças, ou Erês, trazem a mensagem da Alegria e da Pureza, pois é assim que deve estar nosso coração em qualquer situação, seja enfrentando um problema, lutando por justiça ou buscando respostas para nossa vida. Muitos dos espíritos que se apresentam como Raiozinho, Pedrinho, Joaninha, Cosminho, Doum etc. são grandes magos brancos, lidam com a mais alta magística em prol da caridade. Tanto que com uma simples bala, ou guaraná, conseguem manipular elementos sutis para ajudar aquele que o procura para aconselhamento. Com essas figuras infantis, as pessoas se sentem à vontade para conversar. Além disso, é uma homenagem às crianças que, por sua vulnerabilidade, passam por sofrimentos que muitas vezes a sociedade não vê ou não consegue reprimir. Elas nos fazem pensar o que fazemos por nossas crinaças no dia a dia. Foi em forma de Caboclo, ou índio, que se apresentou o guia que chegou em uma reunião espírita niteroiense, em 1908, para fundar a Umbanda: o Caboclo das Sete Encruzilhadas. Símbolo de um país que vive na insconstância de desejar uma volta às origens e ao mesmo tempo o progresso a todo custo, o caboclo traz, como mensagem principal, a Simplicidade e a Fortaleza que o homem carrega dentro de si. O médium, quando incorpora um caboclo, assume uma postura altiva, séria, e transmite de forma muito direta as orientações do guia. Eles ensinam, por exemplo, o uso de ervas para fins terapêuticos. De fala mansa, muito carinhosos, sem pressa, como um verdadeiro vovô ou vovó, os guias que assumem a roupagem de Pretos Velhos trabalham com a Sabedoria dos ancestrais e a Humildade que precisamos para avançar, ultrapassando as injustiças de forma a não se cometer mais injustiças ou criar situações de violência. Da mistura brasileira, vem o sincretismo. Os vovôs nos ensinam que boas energias e espíritos de luz não devem ser reduzidos a um rótulo ou presos a uma idelologia. As forças do bem não têm fronteiras. Eles falam do poder dos orixás e dos santos católicos, geralmente carregam um terço de Nossa Senhora, lindamente confeccionado com sementes, e possuem cruzes e figas de guiné, explicando que a força da figa está no poder da planta de que é feito, capaz de atrair energias ruins e assim proteger quem a carrega. Assim como as Crianças, Pretos Velho e Caboclos também representam pessoas da sociedade que sofrem com preconceito e as injustiças sociais. Ao conversar com um guia nestas roupagens, nós prestamos uma homenagem aos índios e negros e paramos para pensar nos belos valores que eles nos transmitem, reforçando a importância que eles têm na formação do nosso caráter. Sem perceber, vamos trabalhando o nosso carma individual e o coletivo também. Silenciosamente, aparando os espinhos da intolerância e da arrogância e redescobrindo a pureza dos primeiros tempos.

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